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Dólar é recorde na história do real

O mercado deu um recado claro de que não gostou do atestado de falta de autonomia assinado pelo Banco Central (BC) na véspera, curvando-se ao Palácio do Planalto com a manutenção dos juros básicos da economia (a taxa Selic) em 14,25% ao ano.

O mercado deu um recado claro de que não gostou do atestado de falta de autonomia assinado pelo Banco Central (BC) na véspera, curvando-se ao Palácio do Planalto com a manutenção dos juros básicos da economia (a taxa Selic) em 14,25% ao ano. Ontem, o dólar disparou 1,47%, cotado a R$ 4,166, o maior nível da história do real. No turismo, a moeda norte-americana chegou a ser negociada acima dos R$ 4,60. As dúvidas sobre a estratégia da política monetária, suscitadas pela postura do BC, levaram os analistas a revisarem suas perspectivas para o câmbio.

Para o economista-chefe da Opus Investimento, José Márcio Camargo, a projeção de dólar a R$ 4,60 no fim deste ano subiu para R$ 4,80. “Com a lambança do Banco Central, um câmbio de R$ 5 não só é possível como é muito provável, dado o aumento de incerteza do que vai ser feito da política monetária”, afirmou. A cotação da moeda americana superou a marca histórica de R$ 4,1461 em 23 de setembro do ano passado. Na máxima da sessão, a divisa atingiu R$ 4,173, maior valor no dia desde o recorde de R$ 4,249 em 24 de setembro de 2015.

Para Adriano Gomes, sócio-diretor da Méthode Consultoria, o motivo é um só: a falta de independência da autoridade monetária. “Alexandre Tombini (presidente do BC) já não tinha boa reputação em função de todas as contradições. O investidor correu para o dólar com medo da inflação, ao ver que o último bastião na defesa da moeda se perdeu”, assinalou. Gomes disse que o que causou estranheza foi a quebra de segredo.

“A autoridade monetária não pode telegrafar ao mercado sua decisão antes de tomá-la”, destacou, referindos-se à nota que Tombini divulgou antes do Comitê de Política Monetária (Copom) anunciar a decisão sobre a Selic. “O mercado mostrou que a taxa real de juros do Brasil, apesar de ainda ser a maior do mundo, de 6,7%, não é suficientemente segura. O segundo colocado é a Rússia, com juro real de 2,5%. Veja a distância entre os dois. E mesmo assim o investidor está dizendo que esse prêmio, o mais alto mundo, é pouco diante do risco que se tornou o Brasil”, lamentou.

No pregão de ontem, dentre 31 moedas, o real foi a segunda que mais se desvalorizou ante o dólar, atrás apenas do rublo, que perdeu 3,63%. “O BC perdeu credibilidade com a decisão de não subir os juros. Com aversão ao risco, o investidor foi direto para o dólar. O mercado não gosta de falta de independência”, sublinhou Felipe Silveira, analista da Coinvalores.

RECUPERAÇÃO

A Bolsa de Valores de São Paulo, diferentemente do dólar, não perdeu valor ontem. O indicador das principais ações negociadas, o Ibovespa, chegou a subir mais de 1%, mas perdeu força ao longo do pregão e fechou o dia com leve alta de 0,19% em 37.717 pontos. Paulo Eduardo Nogueira Gomes, economista da Azimut Brasil, explicou que a expectativa era de que o índice tivesse queda ou, se a tendência mundial fosse de alta, que subisse menos do que os outros mercados, como ocorreu.

O petróleo, que vinha despencando dia a dia, teve alta de 6% ontem e segurou o derretimento das ações da Petrobras. As ações ordinárias da estatal tiveram alta de 6,07%, cotadas em R$ 6,29, e as preferenciais subiram 1,58%, em R$ 4,50. Para Felipe Silveira, da Coinvalores, a recuperação do preço do barril ocorreu porque os indicadores de estoques de petróleo nos Estados Unidos foram fracos. Leandro Martins, analista da corretora Rico, destacou que o fato de não ter ocorrido elevação de juros é bom para a bolsa, porque a atratividade da renda fixa não aumenta.